
A chuva levou tudo,
A grama à beira do lago,
A vela do navio,
O nariz do palhaço
O medo e o arrepio.
A chuva apagou meu cigarro,
Deu um beijo no asfalto,
Deixou as árvores dançando desentronizada
Arrastou a casa do cego,
Por entre córregos e vãos.
A chuva deu um tapa no mendigo,
Um murro no muro,
Um castigo no inquilino,
No meio da praça acolhia o hospício.
A chuva me nocauteou na boca
Partiu meu lábio, lambeu o cachorro de rua.
A chuva desceu inconstante a ladeira
Com moças em suas celas galopando.
A chuva perdeu meu endereço,
Com papel e tudo,
Levou minhas memórias,
Meus risos, meu troco.
A chuva agora, se vai.
Deixando o sol aquecer meus lábios partidos,
Meu cigarro apagado,
O mendigo apanhado,
O sol aqueceu o papel com o endereço,
Mas era tarde, borrou as letras,
Então me perdi no mundo,
Sem risos, sem memórias,
Seca, sem resquícios de presente.
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