Suicídio

Sabe aquela sensação pós-tentativa de suicídio fracassada? Aquela sensação de não saber se isso é bom ou ruim, se é uma segunda chance (se for a primeira) ou a milésima chance (em caso de ser um “self triturador humano”). Um belo dia cor de cinza, um mar revoltado, uma gotinha de lágrima divina, um pequeno sentimento petrificado com doses de fluoxetina. Para que viver com acompanhamento farmacêutico? Por que não viver? Algum minuto desesperado. Se não se consegue conciliar realidade com fantasia se mate. Isso não é um conselho, apenas uma concepção doentia de uma personagem frustrada sem motivo algum. E quero deixar claro que esse não é um texto dramático. Não acredita? Então Foda-se ou leia até o fim.
Se você gosta de soro na veia, pode tentar um suicídio fracassado e se gosta de comer terra experimente o tal carvão através de uma tentativa de suicídio fracassada. Se tiver sorte de não ser encontrado em crises convulsivas três horas depois do “acidente” fará uma lavagem. Então, quando você despertar (se dormir) toda sua família estará reunida (até aqueles que sempre te odiaram, ou você possuía um ódio platônico). O pivô do seu suicídio (se o tiver) também estará lá preocupado e culpando-se por tal dado. Isso pode lhe custar uma aula de culinária, o curso de fotografia, uma viagem, qualquer coisa que você queira. É ai que os abutres se reúnem em torno de sua carne intoxicada para demonstrar o afeto que nunca tiveram, como na festa natalina.
Ingerindo comprimidos a chance de ver isso é maior, chega a ser engraçada, se cortando é doloroso e pode ser fatal, ou não, pode te render dores insuportáveis. Mas para que cometer suicídio se a praia é pública? Se você pode comer asfalto de graça ao invés de pagar para beber carvão ativado? Por que querer morrer se sua vida está começando? É melhor fracassar tentando ou dividir o fracasso com a tentativa? E se interrompendo a vida você impedir o que tanto almeja. A vida é tão misteriosa.
Então, após o susto, duas taças de sorvete. A vida é dura, não é só respirar...